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8/22/2006

"EU HOJE JOGUEI TANTA COISA FORA...." (Carlos Drummond Andrade)

"Não importa onde você parou... em que momento da vida
você cansou... o que importa
é que sempre é possível
e necessário "recomeçar".
Recomeçar é dar
uma nova chance a si mesmo... é renovar as esperanças
na vida e o mais importante...acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período? foi aprendizado...Chorou muito? foi limpeza da alma... Ficou com raiva das pessoas? foi para perdoá-las um dia...
Sentiu-se só por diversas vezes? é por que fechaste
a porta até para os anjos... Acreditou
que tudo estava perdido? era o indício da tua melhora...
Pois ...agora é hora de reiniciar... de pensar na luz...de encontrar prazer
nas coisas simples de novo. Que tal um novo emprego? Uma nova profissão?Um corte de cabelo
arrojado... diferente? Um novo curso...
ou aquele velho desejo
de aprender a pintar... desenhar...
dominar o computador...
qualquer outra coisa...
Olha quanto desafio...
quanta coisa nova
nesse mundo de meu Deus
te esperando.Está se sentindo sozinho? besteira... tem tanta gente
que você afastou
com o seu período de isolamento tem tanta gente esperando
apenas um sorriso teu para "chegar" perto de você.
Quando nos trancamos
na tristeza...nem nós mesmos nos suportamos... ficamos horríveis...o mal humor
vai comendo nosso fígado...
até a boca fica amarga.
Recomeçar...
hoje é um bom dia
para começar novos desafios. Onde você quer chegar?
ir alto... sonhe alto...
queira o melhor do melhor... queira coisas boas para a vida... pensando assim trazemos
prá nós aquilo que desejamos... se pensamos pequeno...
coisas pequenas teremos... se desejarmos fortemente
o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor...o melhor vai se instalar
na nossa vida.
É hoje o dia da faxina mental... joga fora tudo
que te prende ao passado... ao mundinho de coisas tristes... fotos...
peças de roupa...
papel de bala... ingressos de cinema...
bilhetes de viagens... e toda aquela tranqueira
que guardamos
quando nos julgamos apaixonados...
jogue tudo fora... mas principalmente...
esvazie seu coração... fique pronto para a vida...
para um novo amor...
Lembre-se somos apaixonáveis... somos sempre capazes
de amar muitas
e muitas vezes... afinal de contas...
Nós somos o "Amor"...

"O NAVIO NEGREIRO" Um poema de Castro Alves

Era um sonho dantesco...
O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja... se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da roda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
Quem são estes desgraçados,
Que não encontram em vós,
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?... Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa musa,
Musa libérrima, audaz!
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz.
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...
São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também,
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel.
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael...
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram — crianças lindas,
Viveram — moças gentis...
Passa um dia a caravana
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus......
Adeus! ó choça do monte!......
Adeus! palmeiras da fonte!......
Adeus! amores... adeus!...
Depois o areal extenso...
Depois o oceano de pó...
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer...
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormindo à toa
Sob as tendas d'amplidão...
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cum'lo de maldade
Nem são livres p'ra... morrer...
Prende-os a mesma corrente— Férrea, lúgubre serpente —
Nas rôscas da escravidão.
E assim roubados à morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoite... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufão!... "

Este é um excerto do poema. Para ler todo o poema, por favor, clique aqui.