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5/31/2006

Um pouco sobre a história do Tabaco:

"O tabaco é uma planta que pode atingir 2 m. de altura, cujas folhas medem até 60 e 70 centímetros de comprimento; as flores dispostas em cachos ou em panículas, são vermelhas, amarelas ou brancas. Certas espécies constituem belas plantas ornamentais: tabaco branco cheiroso de grandes flores, de perfumaria muito suave; tabaco de flores compridas, cuja corola é primeiro branca, tornando se purpúrea; tabaco gigante, notável pela sua abundante e soberba fluorescência; tabaco tormentoso, tabaco de folhas de wigandia, etc. As suas espécies comerciais mais importantes são a nicociana tabacum e a nicociana rustica. Chama-se vulgarmente erva-santa. Sabe-se que o tabaco é de origem americana; no entretanto, há escritores como Lotario Becker, que pretendem que seja uma planta asiática, e que tenha podido ser levada em tempos muito remotos para o Novo Continente. Becker demonstra que na Pérsia, por exemplo, cultivou-se e fumou-se uma ou talvez mais espécies de tabaco, muito antes da descoberta da América, Outros supõem que o tabaco é uma erva africana, baseando-se em que não é crível que este vegetal pudesse generalizar-se tanto em todo aquele continente, e enraizar-se em usos tão diferentes nos costumes dos povos depois do descobrimento da América. Alguns viajantes da Austrália, com iguais argumentos, sustentam que o tabaco é oriundo do norte daquele continente, e citam em seu favor as comunicações de Cook, Gregory, e outros, sobre plantas narcóticas que viram mascar, fumar ou sorver em forma de pó. Mas também é certo, que em parte alguma se menciona, que o tabaco existisse no velho mundo antes do descobrimento da América, o que leva a crer que seja esta efectivamente a sua verdadeira pátria. Cristóvão Colombo, em 1492, abordou a ilha de S. Salvador, e fê-la reconhecer por Luís de Torres e Rodrigo de Jerez, os quais notaram, nas margens do rio Canau, que os habitantes de ambos os sexos fumavam por meio dum instrumento, denominado pelos indígenas tabacos, composto dum pequeno tubo, dividido em duas partes, de diferente calibre; introduziam a mais estreita na boca para absorver o fumo; e a mais larga servia para conter folhas secas de cohiba, nome dado pelos naturais da ilha Guanahani (S. Salvador) à nicotina. A maioria, porém, desta pobre gente substituía o tubo pelas próprias folhas enroladas, em guisa de tosco charuto, constituindo os chamados canudinhos. Segundo alguns, não pertence a Colombo a descoberta da erva-santa, mas a Grijalva, que dizem tê-la estudado quando visitou a ilha de Ta­bago ou Tabasco em 1518, opinião insustentável ante os factos históricos. A ilha de Tabago foi reconhecida em 1498 por Colombo e ocupada, em 1632, pelos holandeses; Fernando Cortez, na viagem à América, viu em Tabasco os naturais consumirem o tabaco, e em 1518 enviou a Carlos V de Espanha as sementes que pôde ali obter. No mesmo ano de 1518, o missionário espanhol Frei Romano Pane enviará da América, para onde fora em companhia de Colombo, algumas sementes de nicociana, ao mesmo imperador Carlos V. Hernandez de Toledo, fidalgo e médico espanhol, trouxe de S. Domingos, em 1559, sementes para Espanha e Portugal; depois João Nicot, embaixador de Francisco II, de França, junto à corte de D. Sebastião, de Portugal, no tempo que decorreu de 1559 a 1561, obteve-as dum flamengo e semeou-as no seu jardim, reconhecendo nas plantas que vingaram qualidades recomendáveis. Por este facto remeteu alguns pés para Paris em 1560, com destino a Catarina de Medicis; daqui vem a chamar-se ao tabaco erva ou pó da rainha, porque apenas o aproveitava pulverizado. Também se denominou nicociana ou erva do embaixador, por ter sido Nicot que o introduziu em França. Nesse tempo era igualmente conhecida por erva-santa, em virtude das qualidades medicinais que então lhe atribuíam. Já os índios a supunham remédio (eficaz para a cura de todas as doenças, pela embriaguez que o habito tornava agradável. Os europeus consideravam o tabaco uma verdadeira panaceia; remédio infalível para as enxaquecas, pneumonia, chagas, gota, raiva e servindo até como narcotizo, aperitivo, etc. O cardeal de Santa Cruz, núncio apostólico em Portugal, foi o primeiro que o enviou para Roma; por esse tempo Afonso de Tarnabon, bispo de Bruges, o divulgava em França. A planta tomou ainda nessa época, os nomes de erva-santa Cruz e de Tarnabon, que lhe foram conferidos em homenagens aos dois prelados. É muito curiosa a história do tabaco, pelo desenvolvimento extraordinário que tomou desde que se conheceram as suas muitas propriedades. Hoje cultiva-se em quase todos os países do mundo. O seu aspecto como as suas qualidades são muito variáveis segundo os Iugares de produção. A Vuelta Abajo (ilha de Cuba) fornece as folhas de havano, dum custo muito elevado por causa do seu aroma delicioso. Sumatra e Java dão folhas muito finas, de cor clara, utilizadas para a capa dos charutos. O Brasil (província da Baia) produz bons tabacos para o interior dos charutos. Os Estados Unidos colhem uma enorme quantidade de tabacos servindo para o fabrico dos seaferlatis (Kentucky, Ma­ryland, Ohio, Virginia). A Turquia e a Ásia Menor fornecem folhas de pequenas dimensões, de cor amarela e dum aroma especial muito penetrante. No ponto de vista químico, o tabaco é caracterizado pela presença dum alcalóide especial. a nicotina. O tabaco aplicava-se primitivamente, em alguns pontos, como simples adorno, e em outros, como medicina. Parece que o hábito de se fumar foi introduzido primeiro em Inglaterra, em 1585 por sir Francisco Drake, que de volta da Virgínia, propagou e ensinou a manipular o tabaco, segundo o processo dos naturais daquela região. Então abriu-se a primeira casa de venda para o consumo da planta em França, e em Espanha supõe-se ser o uso do tabaco de fumo, devido a um frade espanhol, residente muitos anos na ilha de S. Domingos. O gosto da substância fornecia grandes proventos aos estados apesar de se reconhecer que era pernicioso ao organismo. Parece que foi no principio do século XVII, pouco mais ou menos, que em Portugal começou o seu consumo com uma certa importância sempre crescente, dando origem a um pequeno imposto arbitrado pelo rei, imposto este, que foi dia a dia aumentando com a gradual progressão dos lucros, que os comerciantes auferiam. Antes da aclamação de D. João IV, o contrato do tabaco foi arrematado pelo espaço de 3 anos na corte de Madrid, por um português em 40$000 reis por ano; passado esse prazo, Inácio de Azevedo, também português, o ajustou por 60$000 reis, mas tendo falecido, passou de novo o contrato ao primeiro. O acrescimento foi subindo de ano para ano, e em 1640, foi o contrato arrematado por 10:000 cruzados, e em 1674, por 66:000 cruzados. Do ano de 1675 em diante rendeu o tabaco 500:000 cruzados até um 1 milhão de cruzados, e no anuo de 1698 aumentou o dito contrato a 1 milhão e 600:000 cruzados e finalmente nos anos de 1707 e 1708 o castelhano D. João António de la Concha trouxe o contrato do tabaco arrendado por 2 milhões e 200.000 cruzados, em cada ano, não com pequena admiração da prodigiosa química, com que pó e fumo, em prata e ouro se convertiam. Assim se conservou algum tempo, para do novo retomar o aumento progressivo e chegar afinal à importância de 1520 contos anuais, que foi o preço do contrato que findou em 1864. Tendo sido abolido por lei das cortes o monopólio do tabaco a contar do 1º de Janeiro de 1865, foi posto em praça publica o contrato pelo segundo se mestre de 1864, e arrematado por uma companhia, juntamente com o edifício, maquinas e utensílios da fabrica, por 1:410$500 reis. A companhia havia sido instalada em 1845, por, ordem do governo, no edifício do antigo convento de Xabregas. Ao princípio foi este monopólio arrendado sem concorrência. Depois introduziu-se o uso de se dar em arrematação em praça pública a quem oferecesse maior lanço, para o que se organizavam companhias de capitalistas."
Transcrito por Manuel Amaral

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume VII, págs. 5 e 6.